A Dica Literária do Programa Literatura em Foco, apresentado pelo jornalista Abrahim Baze, trás a obra intitulada “Mais borracha para Vitória”, dos autores Adelaide Gonçalves e Pedro Aimar Costa.
A obra é repleta de registo fotográfico, promovendo um relato sobre a borracha no período final do século XIX, questões referentes ao tratamento estético da borracha em seus conhecimentos nas atividades de produção de borracha.
Nesta semana a Academia Amazonense de Letras teve a honra de receber a visita do casal de turistas vindo de Amsterdã , na Holanda, os turistas Prof. Dr. Ivan Augsburger e sua esposa a Enfermeira Carien Ruijter. Estão de passagem pela capital conhecendo a região através de seus pontos turísticos e a Academia foi um dos pontos que fez parte desse roteiro.
Impressionados com a beleza e riquezas de detalhes nos objetos antigos e grandes obras literárias, os turistas tiveram o privilégio de conhecer a história da Academia desde sua fundação, suas dependências como o Salão Nobre do Pensamento Amazônico Álvaro Maia, onde acontece os grandes eventos da Academia como lançamento de livros, a Biblioteca Genesino Braga e a Sala-Memória Mário Ypiranga Monteiro onde contém os registros fotográficos dos fundadores e Acadêmicos.
Além da Academia Amazonense de Letras, o casal conheceu também o Palácio Rio Negro, o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), e o Museu da Amazônia (MUSA), pertencente a Reserva Florestal Adolpho Ducke entre outros pontos turísticos.
Para eles a visita na Academia foi um momento muito especial por conhecer de perto os grandes autores que deixaram legado na história do Amazonas e consideram a capital um lugar incrível repleto de belezas naturais em sua flora e fauna, além de conter uma rica gastronomia em seus cardápios regionais diferenciados de sabores como o açaí, o cupuaçu e o tucumã.
Eduardo Gonçalves Ribeiro (São Luís, 18 de setembro de 1862 – Manaus, 14 de outubro de 1900) foi um político brasileiro. Foi governador do estado do Amazonas entre 2 de novembro de 1890 a 5 de maio de 1891, e de 27 de fevereiro de 1892 a 23 de julho de 1896, sendo o primeira pessoa parda a governar o Amazonas.
“Este livro veio demonstrar e comprovar uma série de inverdades contra Eduardo Ribeiro”, explica Robério Braga, ao mesmo tempo que aponta os adversários políticos e as elites amazonenses, os quais não engoliam a ascensão sociopolítica do ex-governador, como responsáveis por esse escarnio.
Eduardo Ribeiro atuou política partidária, na gestão pública, na atividade militar, no magistério e na agitação cultural e intelectual. Mas, segundo o escritor, ele era visto pelos aversários como um pária social, porque não descendia das classes sociais que detinham o poder, seja no Império ou na então recém-instalada República.
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A cidade de Manaus e a sociedade manauara, através dos dois principais clubes sociais da época, Ideal Clube e principalmente o Atlético Rio Negro Clube estavam engajados no processo da escolha da candidata.
Durante a Primeira Guerra Mundial a economia norte-americana estava em pleno desenvolvimento. As indústrias dos Estados Unidos da América produziam e exportavam em grandes quantidades, principalmente, para os países europeus.
Após a guerra o quadro não mudou, pois os países europeus estavam voltados para a reconstrução das indústrias e cidades, necessitando manter suas importações, principalmente dos Estados Unidos da América. A situação começou a mudar no final da década de 1920. Reconstruídas as nações europeias diminuíram drasticamente a importação de produtos industrializados e agrícolas dos Estados Unidos. Com a diminuição das exportações para a Europa, as indústrias norte-americanas começaram a aumentar os estoques de produtos, pois, afinal não conseguiam vender como antes. Vale ressaltar que essas empresas possuíam ações na Bolsa de valores de Nova Iorque, como também milhões de norte americanos, acreditavam e tinham investimentos nestas ações.
“Em outubro de 1929, percebendo a desvalorização das ações de muitas empresas, houve uma correria de investidores que buscavam vender ações adquiridas naquele período. Este efeito foi simplesmente devastador, pois, as ações se desvalorizaram fortemente em poucos dias. Pessoas muito ricas passaram, da noite para o dia para a classe pobre. O número de falências de empresas foi enorme e o desemprego atingiu 30% dos trabalhadores. A crise também conhecida como A Grande Depressão, foi a maior de toda a história dos Estados Unidos. Como nesta época, diversos países mantinham relações comerciais com os Estados Unidos da América, a crise acabou se espalhando por quase todos os continentes”. ¹
No Brasil não foi diferente. Éramos neste período o maior exportador de café para os Estados Unidos, consequentemente a exportação desse produto diminuiu consideravelmente e os preços do café produzido no Brasil despencaram. A solução encontrada na época para que não houvesse uma expressiva desvalorização do nosso café, o governo brasileiro procurou comprar e queimar grandes toneladas de café, permitindo desta forma a diminuição da oferta do produto, esperando assim no mínimo manter o preço naquele período, o que época trouxe algum resultado. Desta forma aqueles produtores que investiam neste seguimento migraram para o setor industrial promovendo assim um expressivo avanço da indústria nacional.
Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Manaus nesse período
A história da ocupação do espaço amazônico tem como momento marcante o período do ciclo da borracha, com profundas consequências para a realidade demográfica regional. A verdade é que a Amazônia não foi mais a mesma depois do Fausto Látex. A ocupação se intensificou, as cidades sofreram profundas mutações, as principais capitais regionais Manaus e Belém, experimentaram um processo de modernização sem precedentes. Fruto dessa realidade a região amazônica foi inserida compulsoriamente na engrenagem do capitalismo internacional, como principal fornecedora de matéria-prima indispensável na produção de diversos produtos, ajudando a alavancar principalmente a indústria automobilística.
Do ponto de vista histórico foi um tempo efêmero, mas definitivo na história da Amazônia. A produção de borracha amazônica supriu as necessidades do mercado internacional, conectando-se com os principais centros de produção industrial. Em meio a esse contexto, a região ajudou a financiar o processo de desenvolvimento nacional em seus momentos iniciais, ao mesmo tempo em que contribuiu para projetar o Brasil no exterior, estimulando o interesse de investidores e ações econômicas que implementaram o desenvolvimento nacional.
Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Em 1929 a falta de numerário era uma queixa comum o dinheiro não circulava no comércio. A falta de meio circulante não se dava pela ausência de capitais, mas pela escassez do papel-moeda em si. O mesmo ocorria com os Bancos que preferiam trabalhar a circulação em suas matrizes.
“A Associação Comercial do Amazonas desejava a todo custo, a correção destas irregularidades, até aceitando taxas mais altas, contanto que o comércio não ficasse sujeito as atuais flutuações e incertezas”. Pág. 53.³
Todo esse rigor econômico que se inicia em 1910 com a queda da borracha teve sequência por um longo período com graves repercussões socioeconômicas, não só no âmbito regional, mas em todo país, que sentiu seu impacto de forma avassaladora.
A cidade de Manaus de Edna Frazão Ribeiro
Segundo o autor Leandro Tocantins, Manaus era uma cidade de suaves colinas e que desdobrava-se em vistas múltiplas para quem a cruze nas avenidas e ruas de seu lúcido urbanismo.
“E não deixa de impressionar a obra urbanizadora da capital, creditada ao Governador Eduardo Ribeiro, O Pensador (assim os amazonenses costumavam chamá-lo). A topografia da cidade antes de Eduardo Ribeiro vislumbrava-se em cortes hidrográficos com os seguintes igarapés: Salgado, Castelhana, Bica, Espírito Santo, Manaus, Cachoeirinha, São Raimundo e Educandos. As fachadas residenciais, embora com predomínio neoclássico, apresentava muito sinais de art nouveau. Notável é o foyer de honra, em puro estilo veneziano, com mármores, espelhos e candelabros importados”. Pág. 230.³
Música composta em homenagem à Edna Frazão Ribeiro. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Primeiro Concurso de Miss Brasil
Edna Frazão Ribeiro, diferente de outras misses eleitas neste período, teve sua escolha através dos diários associados na época do Jornal do Comércio e Rádio Baré que, enquanto a rádio divulgava o concurso em si o Jornal do Comércio fazia publicar um folheto para que a população recortasse e coloca-se seu voto, que era recebido através de urna na porta do Jornal. Desta forma ela foi a primeira e única a ser escolhida através do voto popular.
A cidade de Manaus e a sociedade manauara através dos dois principais clubes sociais da época, Ideal Clube e principalmente o Atlético Rio Negro Clube também estavam engajados no processo da escolha da candidata. A viagem ao Rio de Janeiro cidade onde ocorreria o evento foi longa. Edna se fez acompanhar pelo seu irmão. Mulher morena de estatura moderada, rosto iluminado e se faz apresentar naquele momento usando um belo vestido azul-ferrete, partido de branco, com motivos bordados multicoloridos.
Chamada do Athletico Rio Negro Club para receber Edna. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
População foi acompanhar sua chegada. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Em plena elegância moderna para época trazia em seu pescoço um colar gracioso de contas triangulares. Ela era filha de Adrião Ribeiro Nepomuceno e de Rosa Frazão Ribeiro. Uma de suas principais características era o sorriso que mostrava graça e encantamento.
Embora seu encantamento pela cidade maravilhosa, a nossa miss amazonas destacava aos jornais da época do Rio de Janeiro que trazia consigo as lembranças e impressões de nossa região sem nenhum momento perderam o encantamento da cidade que ora visitava. Normalista dedicada aos estudos tinha como maior passatempo o conhecimento através de leituras e de seus estudos. Seus autores preferidos eram Gonçalves Dias e Castro Alves. Destacava também que papel da mulher na sociedade era o lar.
Declarava também a época que não era desportista, mas admirava a natação. Sua cor predileta era rosa, gostava de pintura e música, amava o sol e quando caminha pela rua se quer procurava o lado da sombra, afinal vinha de uma cidade de exuberante natureza e rios caudalosos. Apreciava também os passeios de bonde. Esses pormenores foram dados como entrevista para a revista Flores do Brasil – O livro das Misses, com texto de Raimundo Lopes e desenhos de Porciúncula Moraes, publicado no Rio de Janeiro em maio de 1929. No seu retorno a Manaus ela foi efusivamente recebida pelo povo e homenageada na então sede do Atlético Rio Negro Club na rua Barroso nº 15.
Autoridades receberam a Miss. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
A formação da família
Transcorria o ano de 1930, o jovem magistrado João Pereira Machado homem probo e fiel defensor dos ensinamentos da magistratura que transformara sua vida em sonhos e muito trabalho, apaixonou-se pela beleza e pelo caráter da então jovem Edna Frazão Ribeiro e assim, casaram-se dando início suas histórias de vida, deixando a cidade de Manaus para trabalhar nos confins do Amazonas na cidade de Humaitá.
Enfrentaram o mundo desconhecido de rios, florestas e muita dificuldade para adaptar-se a nova realidade que com muita coragem desnudaram silenciosamente a tão almejada felicidade. Esse é um aspecto peculiar guardado na memória de um de seus filhos o médico e humanista Gil Machado, que busca da memória para viajar no tempo como se houvesse falas de um período não muito distante a contar passo a passo esse tempo vivido.
O médico Gil Machado seu filho voltou no tempo e com voz pausada sem esmorecer dar lugar ao olhar vazio que vem de dentro de si mesmo para rememorar este tempo sustentado por esteios de forte lembrança. O tempo passa e a família cresce com o nascimento de sua primeira filha Cláudia Rosa era o ano de 1932. Em 1933 celebra-se a chegada do segundo filho João Lúcio e em 1936 o terceiro filho Gil Machado.
Edna Frazão Ribeiro casou-se com o desembargador João Pereira Machado. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Homens e mulheres que lograram êxito em suas histórias tiveram como principal atributo a coragem e o espírito empreendedor. Foram, sobretudo, seres que acreditaram em seus sonhos e projetos movidos pelo entusiasmo e pelos ideais, legaram a sociedade uma história de feitos e conquistas.
Estava a porta o ano de 1940 e, por força de sua profissão a família transfere-se para a cidade de Parintins, os temos eram difíceis e havia na família uma preocupação relacionada aos estudos dos filhos e dessa forma Cláudia Rosa passou a ser aluna interna do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora e em seguida João e Gil também seguem o mesmo caminho passaram a ser alunos internos do Colégio Dom Bosco.
Em 1943 João Pereira Machado perde sua companheira, naquele período a situação das cidades do interior era muito difícil sem água tratada, Edna contrai o Tifo doença implacável e sem grandes recursos ela vem a falecer, somente em 1950 foi descoberto o antibiótico que combateria este mal, chamado (Cloromicetina). O jovem magistrado tinha que continuar a criação dos filhos e a proposta de uma educação condizente. E assim, o jovem magistrado em 1945 contrai núpcias com Maria Arminda Botelho Mourão de família tradicional e filha do Desembargador Hamilton Mourão. Deste casamento nasceu sua filha Edna Maria Mourão Pereira Machado.
Homenagem dos fãs de Edna. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Os filhos Gil e João Lúcio foram estudar no Colégio Pedro II, (hoje Colégio Estadual do Amazonas) e, mais tarde João Lúcio e Gil concluíram o curso de Medicina na Faculdade Federal Fluminense do Rio de Janeiro. O magistrado João Pereira Machado transfere-se para Manaus ainda como Juiz e tempo depois assume o cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas.
Seu filho e médico João Lúcio Machado deu uma importante contribuição na área da medicina para o Estado do Amazonas e empresta seu nome ao grande hospital na zona leste de Manaus.
Quando foi prefeito de Parintins Gláucio Gonçalves juntamente com a Câmara Municipal de Parintins presta em memória de Edna Frazão Ribeiro uma significativa homenagem, além de eloquentes discursos permitiram o translado dos restos mortais de Edna para Manaus e aqui foi enterrada na sepultura perpétua no Cemitério de São João Batista onde já encontrava-se seu esposo João Pereira Machado.
Referências
¹ Revista Café e Cultura – Jornalista Giuliana Vallone ² LOUREIRO, Antônio. A Grande Crise. 2ª edição – Manaus: Editora Valer, 2008. Página 53. ³ TOCANTINS, Leandro. O Rio Comanda a Vida – Uma interpretação da Amazônia. 9ª edição. Manaus: Editora Valer/Edições do Governo do Estado, 2000. Página 230. *Informações dadas pelo seu filho o médico e humanista Gil Machado.
O apresentador Abrahim Baze entrevistou na Biblioteca Genesino Braga recebeu a professora e titular da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas, Artemis Soares. Natural do Município de Manicoré-AM, a professora tem várias obras publicadas, sobressaindo-se as de cunho indigenista entre outros títulos que compõem com riquezas e detalhes sua galeria literária.
Cerca de 20 títulos já foram publicados com sua autoria, co-autora e organização, além de registrar sua participação em capítulos de livros. É membro da Academia Amazonense de Letras ocupando a cadeira número 40 de Paulino de Brito, desde novembro de 2017 e membro da Academia Brasileira de Educação Física desde outubro de 2019.
Nesta edição, a entrevista destaca a obra “Pensamento social, etnicidade, corpo e notas de pesquisa” uma produção de fruto da parceria UFAM /FAPEAM, uma coletânea de grande experiência que resulta do envolvimento professor/aluno na busca do novo e do esforço de cada um na realização de suas pesquisas, caracterizados como relatórios de pesquisa, ensaios ou notas de pesquisas, abordando preferencialmente temas amazônicos, alma do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia da UFAM e expressão da formação interdisciplinar em processos socioculturais na Amazônia.
Além de ser uma das organizadoras da obra literária, o livro possui também a organização dos professores, Marilene Corrêa da Silva Freitas e Shigeaki Ueki Alves da Paixão. Dentre os muitos assuntos abordados, de forma direta ou indireta nesta obra, destacam-se trabalhos que discutem o Pensamento social e político, as Institucionalidades, e as Representações Literária e Mítica na imaginação amazônica.
Com a produção de Juliana Neves e imagens de Yohane Honda, a entrevista completa você pode conferir através do Aplicativo AMAZONSAT no Play Store ou App Store do seu celular.
Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo (Manaus, 23 de fevereiro de 1928 — Manaus, 19 de julho de 2009) foi um político brasileiro filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
A princípio, Gilberto Mestrinho foi o Governador mais jovem eleito no país. Aos 27 anos já era Prefeito de Manaus e aos 28, secretário das Finanças do Governo e aos 30, já governava o então Estado do Amazonas.
Pelo Amazonas, foi governador durante três mandatos e senador, além de prefeito da capital Manaus. Por Roraima, foi deputado federal.
Silvino Santos mergulhou na arte de fotografar, documentarista. Já Aurélio Michiles enriquece não apenas o patrimônio e imagético da Amazônia, mas a própria cultura fotográfica e do cinema, de um período não muito distante, porém, histórico.
A velocidade de transformação da cidade de Manaus é narrada por um longo período por Silvino Santos. Sua obra iconográfica se destaca não só pela experiência da nova síntese de período glamoroso, mas pelo congelamento futurista que, somada a colagem de fragmentos, visões rápidas e múltiplas do nosso cotidiano urbano, aparenta hoje uma vida moderna da época em que se instalava o período do látex.
É nesse ambiente de efervescência cultural, econômica e política, de significados e alterações no espaço urbano e do cotidiano interiorano é que devemos inserir e entender a lente que documentou todo o momento com fotografias e filmes.
Silvino Santos. Acervo: Abrahim Baze
Silvino Santos, um imigrante português que tem uma importância diferenciada na história iconográfica da Amazônia como também temos que se considerá-lo como um dos pioneiros, juntamente como o alemão Huebner, na tentativa de documentar e organizar a memória iconográfica de Manaus em seu entorno.
Exímio fotógrafo e cineasta, como nenhum outro, soube retratar a atmosfera da cidade e seu cotidiano interiorano nas primeiras décadas do século XX. Sua produção retrata tudo aquilo que ele via, ao mesmo tempo, com as novidades que adentravam no espaço urbano. Pouco se mostra do seu trabalho e atuação em estúdios, com retratos e crayon, produções praticamente pequena diante da exuberância de sua fotografia documental urbana. Isso é bastante raro na história da fotografia universal, já que, no período foram poucas as fotografias que conseguiram escapar da tradição do ateliê.
Silvino Santos mergulhou na arte de fotografar, documentarista – cronista, que deu relevância à fotografia como informação na história das representações visuais, e foram muitas.
É nessa particularidade que Aurélio Michiles recupera para a história e futuros estudiosos em DVD a vida e obra de Silvino Santos. O cineasta Aurélio Michiles com seu trabalho de qualidade excepcional, que enriquece não apenas o patrimônio e imagético da Amazônia, mas a própria cultura fotográfica e do cinema, de um período não muito distante, porém, histórico.
Aurélio Michiles dirigindo José de Abreu, no filme documentário Silvino Santos o cineasta da Amazônia. Acervo: Aurélio Michiles.
O cineasta Aurélio Michiles com o seu filme “Silvino Santos o Cineasta da Selva”, nos dá a oportunidade de ampliarmos a investigação e a pesquisa tanto no campo da fotografia quanto do cinema, do cotidiano urbano e da paisagem humana. Tudo isso, garante o acesso irrestrito para pesquisadores, estudantes e interessados neste segmento.
O filme – documentário de Aurélio Michiles é também importante permitindo reparar uma injustiça histórica. É claro que muito já se fez para lembrar Silvino Santos, porém, ainda somos devedores. O filme documentário de Aurélio Michiles vem estimular o interesse e o estudo pela obra de Silvino Santos, o fenômeno da fotografia e do cinema.
Vale lembrar um período de ampliadores, câmeras, obturadores, lentes e tripés, balanças, bacias, prensas, lanternas e cortadores, químicas, filmes e chapas de vidro, papéis e fórmulas especiais, álbum, cartões, pass-partouts, produtos para o acabamento e a apresentação dos trabalhos. Todas essas variedades de materiais e marcas é a consolidação do mercado, tanto profissional quanto o amador da época, hoje estamos na época digital.
É neste contexto que o cineasta Aurélio Michiles aparece como um profissional notável. Na condição de permitir a redescoberta com certo atraso da história do monstro sagrado Silvino Santos.
Aurélio Michiles procurou fazer esse registro, todo esse fragmento da realidade, do tempo sem antes nem depois. Um recorte fixado que representa através dos vestígios deixados por Silvino Santos, um olhar possível sobre o nosso mundo amazônico. Seu filme – documentário, tem esse desejo de olhar e documentar para posteridade, anos que se organizam e eternizam uma época.
Algumas delas têm uma luz e uma atmosfera absolutamente fascinante, pois é possível perceber que ele buscou em Silvino Santos a singularidade de todo um cotidiano amazônico.
O apresentador Abrahim Baze entrevistou na Biblioteca Genesino Braga, o artista plástico, professor, jornalista, escritor e historiador Otoni Moreira de Mesquita. Natural do município de Autazes – AM, o artista reside em Manaus desde o ano de 1955, durante sua infância deu início aos seus desenhos e realizou sua primeira exposição em 1975. Atualmente é graduado pela Escola de Belas Artes da UFRJ (1983).
A obra literária produzida pela Editora Valer, retrata a cidade como artefato cultural, revelando nela a pluralidade dos seus sentidos: material, simbólico e político. Todos entrelaçados na invenção de identidade local da cidade de Manaus.
Com a produção de Juliana Neves e imagens de Yohane Honda, a entrevista completa você pode conferir através do Aplicativo AMAZONSAT no Play Store ou App Store do seu celular.
Foi no Governo de Eduardo Ribeiro, o grande urbanista, promulgada em 24 de agosto de 1895 a Lei nº. 124, pela qual é efetuada concorrência pública para a instalação dos bondes.
Com todo o desenvolvimento da cidade de Manaus, veio a necessidade de se colocar um meio de transporte à altura do progresso da cidade. A era dos bondes com tração animal estava no fim. A novidade era o bonde elétrico e, assim, “já segundo Waldemar Corrêa Stiel, Manaus foi a segunda cidade do Brasil, depois de Campos, no Rio de Janeiro, a introduzir a eletricidade na iluminação pública, nada mais lógico do que se adotar o bonde elétrico“.
Foi no Governo de Eduardo Ribeiro, o grande urbanista, promulgada em 24 de agosto de 1895 a Lei nº. 124, pela qual é efetuada concorrência pública para a instalação dos bondes.
O vencedor da referida concorrência foi o engenheiro Frank Hirst Habbletwhite, que na época assinou o contrato para as construções das linhas, num total de 20 km, com uma subvenção anual de 200:000$000 no primeiro quinquênio, 160:000$000 no segundo e 120:000$000 no terceiro. Daí em diante cessava a subvenção. Previa-se, também, a possibilidade do concessionário poder aumentar as linhas de trilhos por mais 15 km.
Avenida Eduardo Ribeiro com a Sete de Setembro, década de 1940. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
É formada então a empresa Manaus Railway Company que deu início a instalação das linhas. Em 24 de fevereiro de 1896 é efetuada uma inauguração provisória para experiência. Em 1897, conforme relatório do governador Fileto Pires Ferreira, a companhia já construíra 16 km de linhas, possuindo 16 bondes para cargas e 10 para passeios, tendo transportado 171.783 pessoas. O preço da passagem era de 250 réis.
“Ainda segundo o mesmo autor, para a movimentação dos bondes, que funcionava a partir das 5 da manhã até as 22 horas, foi instalada uma usina hidrelétrica em um dos igarapés da cidade”. Pág. 195 ¹
Foi inaugurado com grandes festejos, os serviços de transporte de passageiros por bondes em 1º de agosto de 1899. Oficialmente Manaus foi a terceira cidade do Brasil a inaugurar os serviços de bondes elétricos. Suas linhas de tráfego eram: Flores, com 24 viagens diárias; Plano Inclinado, com 39; Cachoeirinha, com 67; Circular, com 16 viagens e, finalmente a linha da Saudade, com 53 viagens.
O Estado encampou o serviço de bondes em 24 de julho de 1902 e o repassou a firma Travassos e Moranhas, que por sua vez o transferiu para o engenheiro Antônio Lavadeyra.
Rua Silva Ramos, década de 1940. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Em 1908 é fundada a Manaus Tramways and Ligth Co, com concessão para luz e bondes elétricos durante 60 anos a partir de 27 de abril de 1908, eram seus diretores: James Mitchell, G. M. Both, W.C. Burton e G. Watson. Esta nova empresa absorve a antiga Manaus Railway Co. e entra em atividade em 9 de junho de 1909.
“Por essa época, o coronel Costa Tapajós, superintendente municipal, publica as instruções que acompanham o decreto que proibia cuspir e fumar nos bondes dos serviços elétricos, cujas, multas cobradas dos infratores seriam revertidas em duas terças partes, para a Santa Casa de Misericórdia”. Pág. 198 ²
A decadência desse tipo de transporte advém do início da Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918, que impediu a importação de material, como peças de reposição para os bondes. O bonde era um meio de transporte barato, consequentemente não rendia muito à concessionária e sem possibilidade de ampliação, pois necessitava de grandes investimentos e importação de materiais.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial de 1939 a 1945, os serviços decaíram tanto que em setembro de 1946, o presidente da República assina um decreto autorizando a intervenção federal na Manaus Tramways, a fim de assegurar a normalidade dos serviços. Em 1947 foi extinta a intervenção também por decreto presidencial, mas a companhia estava numa situação de penúria.
Mapa de 1897, mostrando linhas de bonde em Manaus. Imagem: Acervo/The Tramways of Brazil, a 130 year survey, by Allen Morrison
Em 11 de fevereiro de 1950 a Manaus Tramways foi encampada, quando já eram obsoletas e insuficientes as usinas de produção de energia elétrica. Por esse motivo e por economia de energia, os serviços de bondes foram interrompidos. A Serviços Elétrico do Estado, que incorporou a Manaus Tramways, foi obrigada a paralisar totalmente a produção de energia elétrica para a cidade e, por muitos meses Manaus viveu às escuras. A partir daí, foi criada a CEM – Companhia Elétrica de Manaus, que reorganizou os serviços elétricos e, em 1956, numa tentativa efêmera, coloca novamente os bondes em funcionamento. Havia, porém, somente nove bondes em tráfego e não existiam possibilidades de compra e reposição de novos carros e a expansão das linhas. Além disso, a antiga companhia inglesa ainda lutava nos tribunais pela posse de sua concessão, o que motivou a extinção definitiva dos serviços de bondes de Manaus em 28 de fevereiro de 1957.
“Vivendo esse ideal de modernidade e progresso, Manaus passou a buscar com mais intensidade a implementação dos serviços de locomoção, num período em que ocorriam na capital, além das interversões urbanísticas e sanitárias, a ampliação da malha viária, bem como edificação de suntuosos prédios públicos, praças e avenidas, gerando consequentemente a necessidade de veículos de locomoção eficientes para percorrer as áreas da cidade planejada”. Pág. 38,39
Referências
¹ ² CORRÊA, Waldemar Stiel. História do Transporte Urbano no Brasil. Pág. 195, Pág. 198.
³ MAGALHÃES, Soraia Pereira – O Transporte Coletivo Urbano de Manaus: Bondes, Ônibus de Madeira e Metálicos. Manaus: Edua, 2014. Pág. 38,39.