A poesia que nasce na floresta e ganha as ruas de uma Manaus de outrora.
Não surpreende que a jovem Sarah Castelo Branco Monteiro Rodrigues deixou Manaus na busca de um espaço na jurisprudência, porém levou com ela a essência da cidade nativa e da família que deixara para trás, lembranças espalhadas nos sonhos que fizeram parte da sua infância, juventude e da sua história. Em todos esses fragmentos, ninguém poderá conhecer sua cidade, se ao partir, não levar consigo, esses fragmentos de sua vivência.
Levou lembranças das rodas de conversas ao cair da tarde, com vizinhos em frente de suas casas, um cenário e um ritual dos tempos idos de uma Manaus de outrora. A cidade escolhida foi Belém do Pará, que fora destino de muitos amazonenses. A cada partida, e foram muitas, haviam sonhos para um longo renascer. Por tudo isso, os contornos que a natureza amazônica premiou essa cidade maravilhosa, que foi escolhida por ela, mas que também serviu de inspiração.
Os amazonenses que por certo criaram esta relação, levaram consigo os artífices dos paralelepípedos trazidos da Europa que revestiam as ruas de Manaus, os passeios de bonde, os domingos na praça em frente a antiga prefeitura de Manaus. Tudo, tudo mesmo ela levou em sua memória.
Nossa poetiza nasceu em Manaus no dia 8 de abril de 1963, filha de João Pinto Monteiro Neto com raízes no Pará, afinal, nascera em Santarém, e da senhora Maria Amélia Castelo Branco Monteiro, nascida em Manaus. A história de Manaus e a história de Belém do Pará nos é compreendida através da arquitetura, símbolo mais visível de uma sociedade, a fisionomia urbana de Manaus, reflete bem o espírito da sociedade que aqui floresceu em fins de 1800 e início de 1900.
Na verdade, a arquitetura de Manaus exprime uma atitude emocional e estética do apogeu, do período do látex e da burguesia enriquecida pelo processo produtivo e, Belém do Pará, onde se estabelece hoje a nossa poetiza, sim nossa e também de Belém, a cidade que lhe acolheu. Manaus e Belém que despertaram a admiração de tantos estrangeiros imigrantes ou visitantes, nas primeiras décadas de 1900, surgiram em plena floresta amazônica como por encantamento. Ambas cidade desdobravam-se em vistas múltiplas para quem as cruzassem nas suas avenidas e ruas de um lúcido urbanismo.
Sarah Rodrigues, como é conhecida no mundo das letras, ainda recorda a musicalidade da jovem guarda que embalaram um período de sua juventude, foi um tempo rico da nossa história em que as rádios comandavam a programação. Dedicou o seguinte poema para seus irmãos, Sydney, Symmy, Shyrley e Solica, pelos anos inesquecíveis em juntos viveram na rua Bernardo Ramos. Nos presenteia entre tantos poemas com este que publico agora:
SAUDADE DAQUELA RUA
Como recordo daquela rua! Aquela
saudosa rua em que nós cinco, outrora,
no outono, debruçados na janela,
olhávamos a vida lá por fora…
Quando eu e meus irmãos fomos embora,
não houve chuva, nem sol dentro dela,
houve apenas saudade de quem chora,
pela saudade de quem viveu nela.
Mesmo do tempo bom nos distanciando,
vamos seguindo a vida caminhando,
nutrindo por ela um amor profundo.
Porque, naquela rua em que vivíamos,
dormiam as histórias que tivemos,
que jamais revelaremos ao mundo!
Sonhar e acreditar. Dessas duas qualidades resultam as realizações sociais e os fazeres do espírito humano, fatores indispensáveis para a perpetuação das aspirações enobrecedoras e a construção de possibilidades efetivas para uma existência melhor e feliz.
Toda nova geração forja novos padrões, valores e atitudes sobre a vida e a sociedade. Esses caminhos que descortinam resultam do entusiasmo, da fé e da crença no porvir e, se constroem com doação, dedicação e muito trabalho. A existência é fruto do diálogo com o passado e das projeções em relação ao futuro, mas, é no presente que os alicerces do amanha são estabelecidos. As ações humanas, bem descritivas no livro de Sarah Rodrigues, são tecidas a partir da vontade e da decisão de realizar aquilo que pulsa no coração e nas memórias de sua infância e juventude na Manaus de outrora.
As vitórias nos trazem contentamento, mas, as derrotas nos fazem refletir e nos acrescem experiências necessárias para os empreendimentos futuros. A história de um povo e de uma nação, é feita por homens e mulheres. “É certo que não podemos compreender o presente sem conhecer o passado”, este conceito é atribuído à Aléx de Tocville (1805-1859), celebre magistrado e pensador francês.
Essas considerações me ocorrem enquanto constato, que a nossa poetiza conhecedora das leis poderá utilizá-los como pátina no cinzelamento e no conhecimento de seu trabalho. No deslumbramento do lançamento do seu livro em Manaus para mim bastante emocional, presenciei o esplendor de tantas luzes que envolveram a autora, como também, tanta inteligência na sua mais alta fulguração.
Os homens e mulheres que lograram êxito em suas histórias tiveram como principal atributo a coragem e o espírito de luta. Foram sobretudo, seres que acreditaram em seus sonhos projetos movidos pelo entusiasmo e pelos ideais, legaram a sociedade uma história de feitos e conquistas. Ao ser humano foi dado o desafio de navegar nas agitadas águas do tempo. Viver é vencer as provações que a existência nos impõem cotidianamente e cumprir com altivez e dignidade a travessia e compreender este milagre e esse enigma é condição indispensável para uma existência enriquecedora e feliz, assim como nossa poetiza o faz.
É nesse ambiente de efervescência cultural que compareci representando a Academia Amazonense de Letras no lançamento de seu livro, uma manhã de festa. Felizmente a providência divina presenteia a vida com esses momentos que trago no coração cheio de luz. É fundamentalmente importante não esquecer que nossa poetiza nos dá lições e exemplos de humildade, desta forma reconheço aqui sua capacidade e sua produção literária, irradiando novos ensinamentos que são por iguais novas lições de sabedoria. Por isso, dobrem-se os sinos, dos carrilhões da Catedral de Nossa Senhora de Nazaré, em dobres dolentes para exaltar esta amazonense e magistrada que brilha nas luzes do Estado do Pará.
Poetiza Sarah Rodrigues sua lavra poética emerge de um tropel de imagens retidas e imortalizadas na memória da cidade que te serviu de berço. Há joia, há lágrimas, há risos e principalmente as lembranças memoráveis dos bons tempos que aqui viveste entre nós, seu brilho literário nos permite voltar ao passado.
Era hora do crepúsculo. O sol, cansado de luzir e esplender calor no fim de um dia amazônico resolveu recolher-se ao seu leito de sombras. No último instante, porém, arrependido de seu programado mergulho horizonte despiu cintilações douradas, tingindo de todas as cores as nuvens, aquecendo e iluminando cenáculo da Academia Paraense de Letras com a presença de tantos ilustres acadêmicos.
Bem haja! a poetiza Sarah Rodrigues e todos acadêmicos da Academia Paraense de Letras.
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
*Com informações da ASCOM-AAL
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