Sem dúvida, a Avenida Eduardo Ribeiro atendia ao modelo de espaço público requisitado pela burguesia, onde o consumo e o lazer assumiam importantes papéis, e surpreendia ao viajante porque era como encontrar uma cópia fiel dos grandes centros civilizados em pleno coração da selva amazônica.

Avenida Eduardo Ribeiro, esquina da Avenida Sete de Setembro. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Ao discutir o urbanismo de Manaus, na última passagem do século, retoma-se mais uma vez a concepção de Haussmann, com seu modelo de cidade com largas avenidas, praças e a instalação de serviços de melhoramento urbanos que se difundiram nas cidades brasileiras comprometidas com a modernidade da última passagem do século.
Ao iniciar o período republicano, a cidade de Manaus não tinha grandes avenidas, a maior parte de suas ruas era acanhada e irregular. A rua municipal, atual Avenida Sete de Setembro, era uma das artérias mais importantes da capital, talvez a mais extensa, mas tinha vários inconvenientes: era muito estreita, ondulada e cortada por vários igarapés. Faltava-lhe a monumentalidade requisitada pelo modelo das modernas avenidas. Logo nos primeiros anos da administração do governador Eduardo Ribeiro, procurou-se dotar a cidade com nova feição e, nesse sentido, foram tomadas algumas providências para melhorar o trânsito e embelezar as vias públicas.
Assim, em 1892, foi autorizado o aterro de alguns igarapés, incluindo o Espirito Santo, que ocupava um espaço destacado no plano de embelezamento da cidade, planejado por Ribeiro, pois dependia dessa obra o prolongamento da rua Comendador Clementino, que na época da construção do palácio é citada com frequência nos relatos como Avenida do Palácio e, atualmente, denomina-se Avenida Eduardo Ribeiro. Uma das primeiras menções sobre o projeto da referida avenida foi feita pelo diretor de Obras Públicas, Armênio de Figueiredo, em junho de 1893, ao afirmar que a mesma teria trinta metros de largura e mil e sessenta de comprimento e se estendia entre a nova rampa e a fachada de novo palácio e, transformaria as péssimas condições de trânsito que mantinha (FIGUEIREDO, 1893, pág.: 10).

Avenida Eduardo Ribeiro, no Centro de Manaus. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Em junho do mesmo ano, o governador dava maiores dados sobre a obra ao comunicar a desapropriação de vários terrenos daquela rua, justificando que com esse ato estava transformando-a assim em uma avenida de um belo aspecto (RIBEIRO, 1893, pág.: 12). Em junho de 1894, o governador Eduardo Ribeiro, previa que as obras da Avenida do Palácio estariam concluídas até os dois últimos meses daquele ano (RIBEIRO, 1894, pág.: 30), no entanto, em 1 de março de 1896, o governador lamentava que o serviço de aterro do igarapé onde deveria prolongar-se a referida avenida não tinha progredido tanto quanto se esperava, contudo, esperava que dentro de noventa dias a obra estaria concluída (RIBEIRO, 1893, pág.: 24).
Apesar de todos os esforços empregados, é provável que essa obra não estivesse totalmente concluída até 1899, conforme uma fotografia de Arturo Luciane em um álbum editado naquele ano, pode ser que estivesse concluído o aterro do igarapé, mas a avenida mantinha-se em obras, seu calçamento em paralelepípedo iniciava a partir do encontro com a rua Municipal (atual Avenida Sete de Setembro) e aparentava regularidade até o topo da avenida, onde se erguia a construção do palácio. O aspecto da Avenida Eduardo Ribeiro era um tema frequente nos relatórios e mensagens governamentais, também dos jornais e da população.
Em 17 de fevereiro de 1900, o jornal ‘A Federação’ apresenta um texto sem assinatura, que discorria sobre o embelezamento da cidade e sugeria que adotassem na Avenida Eduardo Ribeiro uma adaptação do jardinamento da Avenida Liberdade em Lisboa, prevendo que com esse melhoramento, Manaus ficaria com a rua mais pitoresca e aprazível de todas as cidades do Brasil, considerando que seria um melhoramento de primeira ordem e que não existia em nenhuma das capitais da União. Ao finalizar a nota, afirmava-se que o assunto merecia um estudo especial. Sem dúvida naquela época, a avenida já apresentava um aspecto mais cuidado, levando o governador Ramalho Júnior a afirmar, em julho daquele ano, que era nossa mais luxuosa avenida (RAMALHO Júnior, 1900, pág.: 26).
No álbum do Amazonas, editado em 1902, publicou-se fotografias de Fidanza mostrando a Avenida Eduardo Ribeiro inteiramente concluída. O fotógrafo responsável pelo álbum afirmava que, apesar de ser recente a sua construção, já estava quase totalmente edificada e nela ficavam localizados os principais estabelecimentos da capital, com certeza os mais elegantes, tais como armazéns de moda e de exposição e vendas de objetos de arte, atelier de modistas e de alfaiates, inúmeros hotéis e restaurantes dos quais muitos eram espaçosos e montados com luxo verdadeiramente europeu.

Primeira bomba de gasolina instalada em Manaus, 1922. Foto do dia da inauguração no canteiro central da Avenida Eduardo Ribeiro com a Sete de Setembro. Fonte: Manaus Sorriso/Acervo Edlúcio Castro Alves
A importância assumida pela Avenida Eduardo Ribeiro é confirmada em 1904 pelos médicos paulistas Godinho e Lindenberg (1906, pág.: 66), os quais diziam ser essa a avenida o coração da cidade. Nas suas vizinhanças ficam os mais ricos estabelecimentos comerciais, as casas de moda, os armarinhos e as redações dos jornais. Afirmavam ainda que na cidade existia, em profusão, botequins e mercearias muito frequentados, notando, ainda, um hábito muito europeu das mesinhas dispostas nos passeios dos boulevards ou avenidas, nos trottoirs, como se diria em Paris.
Apesar de crise anunciada desde o início do século XX, em 1909, a aparência da cidade com sua efervescência parecia a mesma e o jornalista carioca Anibal Amorim (1917, pág.: 153-154) notava, também, que era na Avenida Eduardo Ribeiro que se encontrava instalada as principais casas comerciais e redações dos jornais. Destacando que, a noite, o movimento na avenida era enorme quando os passeios ficavam cobertos de mesas, onde serviam sorvetes e toda a sorte de bebidas que envenenam os organismos ainda não aclimatados naquela terra. O carioca impressionava-se com a intensa corrente de automóveis, carruagens descobertas e de tramways (bondes) elétricos pela grande artéria e afirmava ter-se a impressão de um notável centro de vida como todo o conforto e requinte de mundo contemporâneo.
Sem dúvida, a Avenida Eduardo Ribeiro atendia ao modelo de espaço público requisitado pela burguesia, onde o consumo e o lazer assumiam importantes papéis, e surpreendia ao viajante porque era como encontrar uma cópia fiel dos grandes centros civilizados em pleno coração da selva amazônica. Por muitas décadas, essa avenida manteve-se como a principal via da cidade, mesmo depois do advento da Zona Franca, com o crescimento acelerado da cidade e com a intensificação do trânsito, tornou-se proporcionalmente pequena.
Permanece como uma avenida comercial de grande importância para a cidade, mas, ultimamente foram lhe impostas algumas modificações em função da facilitação do trânsito de veículos, não havendo, todavia, maior preocupação com o seu embelezamento sua arborização encontra-se quase totalmente extinta e as fachadas de antigas construções camufladas por grandes placas de propagandas ou descaracterizadas por um verticalismo destituído de senso estético.

Praça do Relógio, no Centro de Manaus. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Por Abrahim Baze