Há pessoas que cumprem a passagem terrena perdidas nos conflitos interiores ou percebendo apenas os seus próprios interesses. Há as que se postam em permanente atenção ao próximo, seja sob o manto da religião, da educação, da medicina, como da assistência social que, entre nós, se fez profissão acadêmica graças a André Vidal de Araújo e sua Escola de Serviço Social de Manaus, desde 1941, a qual doou para a Universidade Federal do Amazonas, com prédio, acervos e respeitável tradição nacional.

Ornado de singeleza e abnegação – que são os maiores troféus das pessoas de bem e que fazem o bem – o nome de Iclé Baraúna Pinheiro se sobressai dentre as que, de forma especial, estiveram atentas aos compromissos cristãos de amor ao próximo e se dedicaram a atvidades sociais, filantrópicas e profissionais voltadas aos operários e suas famílias e, particularmente, aos menores em situação de risco.

A jovem que em 1956 ocupava poltrona do “Constelation” da Panair do Brasil com destino ao sul do país, a sinalizar certa posição social e econômica, foi a que, dois anos depois, participou da organização da “Noite da Primavera”, em benefício das obras sociais da Ação Católica, sob a patronesse de Nazaré Coelho, Antonieta Raposo, Stela Lustoza, Amine Daou, Zaira Vasquez, Isaura Gama e Silva, Maria do Céu Vaz d´ Oliveira, ao lado de Lila Borges, Mariete Neves, Andrade Neto, Maurílio Valle e Ézio Ferreira para escolha da “Rainha do Norte” ou o “Broto do Ano”.  

No SESI, por muitos anos se empenhou em gratas missões como a criação do Centro de Abastecimento e Posto Médico do bairro de São Raimundo em apoio a Luiz Augusto Ferreira (1960), como fizera no bairro dos Educandos; no VI Encontro Regional da JOC (1960), em parceria com Débora Baraúna, realizando palestras e cursos de artesanato para formação do trabalhador e suas esposas e filhas no bairro de São Francisco, por exemplo.

A formação e a experiência acumulada não a afastaram da preocupação com o aperfeiçoamento, e participou do Curso de Extensão Universitária em Serviço Social, com o professor Amilcar Tapeassu, da Universidade do Pará (1969), para melhor atuar nos programas sociais da UNICEF. A sua qualificação, serenidade e capacidade de harmonizar relações humanas a levaram a coordenar a Comissão de Desenvolvimento Social da ECPLAM, encarregada do Plano de Governo da administração Henoch Reis (1975), grupo que tinha a coordenação geral de Edson Farias e Roberto Vieira. Depois, dirigiu a FUNABEM – Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, com firmeza, eficiência e ações efetivas, seminários, simpósios, formação de técnicos sempre atenta à necessidade de prevenção para evitar a marginalização do menor, difundindo estas preocupações pelos municípios, recuperando centros de atenção profissional, apoiando o Banco da Mulher, estimulando o funcionamento da FEBEM-AM. Sobre ela nos diz Nana Soeiro que atuou ao seu lado na direção regional da  FUNABEM: “sensata, conciliadora, educada” ao que acrescentaríamos a leveza de um ser abençoado para servir ao próximo.

Tenho presente na memória o dia em que a União dos Escoteiros do Brasil a homenageou com a Medalha de Gratidão, em grau Prata (1976), elevada condecoração da entidade, jamais conferida a outra personalidade em nossa terra, e que lhe foi entregue sob nossas “palmas escoteiras” pelo irmão Gilberto Van Niekerk, então presidente da regional, em reconhecimento a seu trabalho em favor dos jovens.

Louva-se não só o trabalho digno de aplausos, mas a alma generosa e o coração magnânimo. 

Por: Acadêmico Robério Braga

Diretor de edições, Robério Braga é o quarto ocupante da Cadeira n.º 22, eleito em 20 de setembro de 1981, na sucessão de Manoel Anísio Jobim, foi recebido em 25 de setembro de 1982, pelo acadêmico Ulysses Uchoa Bittencourt. A Cadeira foi fundada por Generino Maciel.