Convivendo com minhas saudades – as muitas saudades que, ao mesmo tempo que sangram, são bálsamos –, abro os olhos para a manhã da vida que renasce em todos os corações nestes tempos do Natal de Jesus e me preparo, mais uma vez, para seguir caminhando em busca da luz interior que me permita cumprir a missão que me foi confiada e me tornar merecedor da dádiva sublime de ter forças para servir e amar ao próximo, dando de mim o que melhor tiver. E a todos convido para seguirmos juntos construindo esse altar.

O palmilhar para seguirmos a estrela-guia que nos há de levar ao encontro da modesta manjedoura do Cristo encarnado, após vencidos os igapós e as matas virgens, há de ser feito entre flores e lagos azuis, com firmamento iluminando o espírito e concedendo a paz que tome conta do nosso ser robustecido pelas orações contritas.

Se seguirmos nessa senda, conseguindo dividir o pão e a palavra, a fé e a esperança, e, se nos for permitido, essa estrela única em resplandescência há de fazer de nós o que Emmanuel ensina em uma das suas lições: a sermos “a gota do orvalho da consolação e do carinho, que diminua a tensão do sofrimento…; … o fio imperceptível da compreensão e do auxílio que dissipe o nevoeiro da discórdia; … a frase simples e boa, que ajude e reconforte, onde o fogo do mal esteja crestando as flores do bem…”, mas, para tanto e antes de tudo, Senhor, rogamos a uma só voz que nos permita receber uma só faísca do raio estelar da sabedoria para vencermos a noite da nossa própria ignorância.

Que sejamos capazes de seguir a trilha que dos céus insinuam todos os raios do firmamento indicando-nos a Estrela de Belém, e que ela nos ensine a não nos desviarmos do caminho do bem e da caridade, a termos forças para avançar com a alegria e a humildade de que também nos fala Emmanuel, confiando que a fé há de ser luz em nosso caminho e com ela seguiremos vencendo os temporais e as ventanias, tomando para nós o exemplo do sol que a cada manhã resplandece.

O amparo, a solidariedade, o abraço fraterno, o sorriso largo que acolha, o pensamento firme, a palavra de agradecimento e a gratidão devem estar presentes no cotidiano de cada um de nós, de forma que tudo isso possamos dividir com os irmãos que encontrarmos, principalmente os recolhidos em suas dores e angústias, tristezas e mágoas, desesperançados e sem perceber que a cada novo raiar Jesus renasce para todos os corações e assim como para a natureza de Sua criação.

O que lhes trago e vos conclamo a seguir é o que sempre ouvi e aprendi na casa dos meus pais amados e que tanto fizeram para que compreendêssemos os dons divinos sem deixarmos de perceber as fraquezas humanas, mostrando que deveríamos nos fortalecer para que as fragilidades fossem vencidas.

É o mesmo que procuro construir junto aos meus filhos e netos, confiando que estas lições são as mais justas e gratas que lhes posso legar e que serão estímulo para que sigam em busca de servir e amar ao próximo, mas, também, procurem edificar catedrais no interior do próprio ser com vitrais que permitam a transposição silenciosa da luz do sol, o som mavioso da singeleza da palavra e o clarão íntimo do verdadeiro sentido da caridade e bençãos que que fortaleçam a esperança e inspirem a fraternidade.

Não deixemos as saudades se transformarem em dor, pois elas são símbolos do amor que recebemos e temos pelos que se dedicaram a nos ensinar sobre a vida.

Confiemos! a estrela-guia está em nossos corações neste Natal do Nazareno.

Por Robério Braga

Membro efetivo da Academia Amazonense de Letras (AAL), é o quarto ocupante da Cadeira n.º 22, eleito em 20 de setembro de 1981, na sucessão de Manoel Anísio Jobim, foi recebido em 25 de setembro de 1982, pelo acadêmico Ulysses Uchoa Bittencourt. Cadeira fundada por Generino Maciel.